Desmame natural: a melhor forma de respeitar o tempo da criança

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Quando eu não era mãe, reinava em mim a ignorância a respeito de tudo que envolvia amamentação. Natural, tendo em vista que eu não tinha interesse no assunto, não perguntava sobre isso, não pesquisava. Tinha colhido meia dúzia de lugares comuns e seguia com eles, firme e forte. Depois que virei mãe, evidentemente, tudo isso mudou. Joguei os lugares comuns na lata do lixo e fui me informar de verdade. Em partes, foi assim que descobri a complexidade da amamentação. Certamente o peso maior foi ser a outra ponta do elo que conectava tão profundamente um bebê a sua mãe. Foi só quando a minha filha olhou nos meus olhos e sorriu com a alma, que eu percebi que amamentação era coisa divina mesmo.

Por isso. Olha eu aqui falando dela de novo. Amamentação. Sim. Defendo e vou defender sempre o direito de uma mãe dar de mamar para seu bebê até a hora que ela quiser. E não digo isso só por que a minha Valentina, hoje com 2 anos e 4 meses, ainda mama, digo isso por que vejo o quanto a sociedade culpabiliza a mãe por tudo: por ela não conseguir dar de mamar, por dar de mamar tempo demais, por dar colo, por trabalhar fora, por não trabalhar fora, e por aí vai. No fim da contas, a mãe se estraçalha de tanta demanda que um filho necessita, e ainda se sente a pior das criaturas quando seu pequeno resolve fazer uma birra no supermercado, ou responde alguém mal, etc, etc.

Como sempre, sigo prolixa. Mas já entendeu pelo título que o assunto de hoje é desmame. E mais do que isso, é saber da importância de respeitar o tempo da criança, como eu canso de dizer aqui, por exemplo, nesse post.

Evidentemente, as pessoas me perguntam quando a minha filha vai parar de mamar, já que ela está grande, e tudo mais. Se for alguém muito querido, eu ouso explicar um pouquinho a respeito do meu desejo de fazer um desmame natural, em todos os outros casos, estou exercitando a pura e simples ação de não dizer nada, ignorar, desconsiderar.

 

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Regina George sempre adequada nessas situações!

Mas, afinal de contas, o que é  desmame natural?

Ora, a resposta é muito simples! O desmame natural acontece quando a criança se auto-desmama. É ela quem indica para a mãe que não quer mais, que é o fim do processo. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatra, o desmame natural costuma acontecer entre dois e quatro anos, raramente antes disso.

Muita gente esquece, mas nós, humanos, somos mamíferos, e digo mais, somos mamíferos muito demorados nesse processo de crescer e ficar independente, ou estou falando asneiras? Pois bem, agora baseado nesse princípio, me diga se é um absurdo uma criança de dois anos ainda mamar?

Sim, já é uma criança que fala, anda, faz birra e tudo mais, mas ainda assim é um bebezito, com sistema neurológico a todo vapor querendo entender o mundo e sofrendo os primeiros “desmames” simbólicos da vida.

Ora, Cíntia! Desmames simbólicos. Não pira na batatinha!

Pois, bem. Não sou eu que digo isso, mas sim um pediatra muito ótimo chamado William Sears. Ele dizia, abre aspas:

 

desmame-natural.

A sociedade perdeu muito ao tentar problematizar tudo, achar que tudo é resolvido com termo técnico e uma receita médica.  Muita gente acredita, ainda em pleno Século XXI, que uma criança que é desmamada, após 2 anos, vai ficar com problemas psicológicos, sexuais ou sei lá o quê. Porém quem diz isso não tem base científica nenhuma no que fala, e mais, não tem noção do que é amamentação, e o quanto ela é algo complexo, envolvendo duas pessoas. E somente duas pessoas. Não a tia, a prima, a vizinha, que metem o bedelho na amamentação das outras. Não o pai, o avó, o sogro, que tem ainda a desvantagem de serem homens (kkk. Sim, é uma baita desvantagem) e não saberem nadinha de gravidez, maternidade e tudo mais.

Li um material muito legal para embasar meu post da Sociedade Brasileira de Pediatria, que já citei aqui, e também já tinha visto esse ponto de vista nas matérias ótimas do Dr. Carlos González. Nesse artigo diz que somente nós, mamíferos da espécie humana, tornamos essa coisa de desmame um processo sociocultural, ao invés do instintivo e genético. Problematizamos um negócio que deveria ser simples. Afinal de contas, dar de mamar é natural, os bebês precisam disso. As mães têm leite, etc, etc.

No entanto, as pessoas querem impor e finalizar um processo por simples arrogância. Pensa comigo, quantas dessas pessoas que dão palpite a respeito de amamentação sabem mesmo o que estão falando? Quase nenhuma! Além disso, ninguém encara o negócio da perspectiva de quem deveria, que no caso, é a criança. Ninguém lembra que elas são recém chegadas ao mundo, não têm a maturidade neurológica de uma adulto, encaram o ato de mamar do ponto de vista DE UMA CRIANÇA. Como já disse tantas infinitas vezes, o a amamentação para um bebê é um vínculo de segurança, de conforto, de amor. Ela se sente acolhida pela mãe, após o choque traumático de ter que vir aqui viver nesse mundo.

 

Globo

Cês acham normal os bebês aceitarem fácil esse lugar aqui?

 

Não é simples, minha gente, deixem as crianças mamarem em paz.

Pois bem, eu optei pelo desmame natural, e minha filha vai desmamar QUANDO ELA ESTIVER PRONTA. E eu gostaria muito que as mães conseguissem fazer desse processo de desmame um momento delas e dos seus filhos apenas. Cada uma deve tomar a decisão de desmamar consciente do que significa tudo isso, e com segurança de que está fazendo o melhor. Não importa quando ela resolver desmamar, mas a certeza de que é o momento certo para ambos. É isso que meu coração quer. Crianças que tenham o respeito dos adultos para os processos envolvendo elas. Simples assim.

Pois bem, para ajudar nessa coisa toda, eu reuni algumas dicas de como identificar se o desmame natural está a caminho. São eles:

 

  • Quando a criança deixa de mamar para fazer outras atividades, se distrai facilmente, quer brincar e não se importa em largar o peito;
  • Quando ela já tem mais de 1 ano e já faz uma alimentação variada e nutritiva;
  • Quando não é mais necessário dar de mamar, em qualquer lugar, porque a criança aceita e entende que pode esperar até chegar em casa, por exemplo;
  • Quando ela passa a dormir a noite inteira, sem acordar para mamar;
  • Quando o vínculo com a mãe já está bem estabelecido e ela se sente segura, de outra formas, que não mamando;
  • Quando ela passa a não precisar mais mamar para conseguir dormir, adormecendo de outras formas.

 

Pela minha perspectiva, a Valentina está se encaminhando para avançar mais alguns pontos dos itens listados, mas como já disse antes, não estou baseando o desmame dela em nenhuma listinha. A intenção aqui é ajudar a identificar, mas sei, pois sinto, que a mãe sabe quando a criança está pronta, e, muitas vezes, pode acontecer aquela forma ideal e maravilhosa do pequeno virar um dia e falar “chega de mamar, não quero mais”. Antes que ache que estou no maravilhoso mundo da maternidade perfeita, digo que conheço mães que conseguiram fazer o desmame assim, e desejo muito que com a minha filha seja similar.

De todo modo, sei que esse momento está mais próximo do que distante, e eu quero muito ter o coração tranquilo de que foi no tempo dela, e não no meu, nem de ninguém mais.

Quem tiver interesse, tem mais coisa, muito mais coisa, sobre desmame natural, na relação de links abaixo.

Bjs e por hoje é só!

 

 

FONTES PESQUISADAS:

http://nutrifilhos.com/desmame-natural-antroposofia/

http://maepop.com.br/10-sinais-de-um-desmame-natural/

http://www.maternidadeconsciente.com.br/depoimentos/desmame-natural/

http://vilamamifera.com/cafemae/desmame-natural-existe/

http://www.pediatriaparafamilias.com.br/paginas/materias_gerais/quando_como_iniciar_desmame.aspx

http://www.sbp.com.br/src/uploads/2012/12/Desmame-Fatos-e-Mitos.pdf

http://www.brasil.gov.br/saude/2014/08/processo-de-desmame-e-natural-e-deve-ser-escolha-do-bebe

6 comentários sobre “Desmame natural: a melhor forma de respeitar o tempo da criança

    • Cíntia Ferreira disse:

      Que bom que gostou. Fiz com todo carinho, por acreditar justamente que a gente tem que respeitar nossas crianças. Sinto-me muito tranquila em ver que estou estabelecendo uma relação de confiança e amor com a minha filha, e não de autoritarismo e hierarquia.

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