Quando é hora de ter um filho?

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Grandes decisões envolvem grandes ponderações. Quer decisão maior do que ter um filho? Aqueles que conseguem fazer esse planejamento familiar tão espetacular, antes de embarcar na viagem da maternidade/paternidade, certamente ficam com zilhões de dúvidas antes de optar pelo sim. Há zilhões de anos atrás, meu desejo era programar não somente quando (e se) eu queria ter filho, casar, essas coisas, mas também qual seria o tecido do sofá da minha casa, e também onde eu passaria as férias no verão de 2050. Eu, alma virginiana que sou, adoro saber que tenho o controle sobre minha vida, mas vamos combinar que isso é bem irreal? Pois é sobre decisões grandes demais para serem tomadas algum dia que falo hoje. Afinal, quando é a hora certa de ter um filho?

Nunca, para alguns.

Quando há estabilidade financeira/profissional, para outros.

Depois do casamento, grande maioria.

A equação de vida que envolve ter um filho é assaz complexa, mais do que qualquer teorema de Pitágoras (que não é tão complexo assim, é que é a única equação que eu lembro agora…rs), e a resposta para essa pergunta que fiz acima sempre vai envolver um risco grande demais para ser corrido para muita gente. Não à toa, muitos têm optado por não ter filhos. Não tem nada de errado nisso. É uma escolha de vida bastante interessante até. Não é para esses que pretendo falar aqui. É para aqueles que pretendem, que desejam, em algum momento,  ter uma criança para chamar de sua. É a dúvida na cabeça desses que pretendo chacoalhar um pouco mais.

Olhe para sua vida, veja como ela está agora. Qual a porcentagem de coisas que existem nela que foram planejados. Você tem o emprego que sonhou? Você mora no bairro que pediu a Deus? Você está exatamente onde pensava estar a essa altura do campeonato? Eu gostaria de dar um chute agora sobre a resposta que você vai dar mentalmente. Eu diria que grande parte, mais grande parte mesmo, do que é sua vida hoje não foi programada para ser como é. Vamos chutar aí uns 70%. Ou mais, talvez 80%. Pode variar, mas a maioria certamente é obra do imponderável.

Agora, me responda, sua vida não foi exatamente pelo caminho que você quis, como você se sente em relação a isso? Feliz? Triste? Com fome (hahaha. Eu todinha)? Eu sou uma pessoa jovem, mas já posso garantir que nossa vida é uma sequência de ações e consequências, que nos levam para caminhos nunca dantes navegados, e poucos, mas pouquíssimos mesmo, foram planejados por nós.

Eu adoro planejar. Sou a rainha das listas, cronogramas e metas. Porém quando se trata de vida real, de decisões como vida profissional e pessoal, muita coisa acaba saindo bem diferente do que a gente queria/sonhou. E tudo bem. Pense que com 15 anos você não tinha exatamente a maturidade que tem agora (se você tiver 15 anos, por favor, ignore essa frase, e vá sorrir à toa da vida, por que você tem 15 anos e isso é maravilhoso). Não dá mesmo para a gente planejar com tanta antecedência assim nossa vida, pois ela vai acontecendo, e a gente vai mudando de fase, e se transformando, e todo esse processo é muito dinâmico e pouco controlável.

Sim. Eu sei. Estou dizendo várias coisas, mas não chegando nunca ao ponto principal. Desculpa aí. É que esse tema me pega de jeito, pois eu, em algum momento, achei que tinha controle total sobre a minha vida, e quando percebi que não, isso foi um pouco traumático, pois teimo em achar que foi justamente quando vi o positivo no teste de gravidez. Não vou entrar em detalhes sobre o sucedido, mas garanto que foi uma mistura do inesperado e do “tinha que ser”. É óbvio que fui agente ativo nessa história, que a gravidez não apareceu sem querer querendo, mas eu me cuidava, gente, e eu morria de medo disso tudo, principalmente por que não queria ter filhos. Porém a gente não tem controle total de nada, e eu percebi isso nessa época. 

Porém o nascimento da minha filha me modificou para sempre, de um modo que NENHUM ACONTECIMENTO conseguiria, e me trouxe uma felicidade tão genuína, que talvez nunca conseguisse sentir, de outra forma. Eu precisava ser mãe, eu tinha que ser. Porém se eu, lá atrás, fosse planejar uma gravidez, pode ter certeza que eu ia dar um jeito do dia de ficar grávida não chegar nunca. Uma hora ia ser por que queria me estabilizar na carreira, no outro por que queria comprar uma casa, um carro, por que queria voltar a estudar, e depois por que ia querer mudar de emprego. Eu ia colocar TUDO antes de dar checklist na parte do tópico “ficar grávida”. E ouso dizer que todo mundo que tem desejo de ter filho, mas quer se planejar bem, vai concordar comigo que esse dia de ser mãe/pai pode nunca chegar, pois há sempre outras prioridades. Sempre.

Não estou aqui falando, olha, minha filha, vai cirandar com o acaso, deixa fluir, não se cuida não, pra quê? Minha gente, claro que não. Colocar uma criança no mundo é uma responsabilidade extrema, não dá para achar que é qualquer coisa isso de ter um filho, por que não é. Vai modificar sua vida para sempre, como modificou a minha, e a de todo mundo que passou por isso. O que estou dizendo é que a gente tem que saber que a hora certa de ter um filho é algo muito pessoal, mas que se você for tentar colocar na planilha esse evento, o dia de ter a criança nunca vai chegar. Por que é difícil mesmo, dói um bocado, fisicamente e emocionalmente, e demanda o tempo todo, exaure nossas forças, pode destruir relações incertas ou bagunçar as certas. 

Não é uma decisão fácil, mas não ache que vai existir um “momento ideal” para ter filho, pois esse momento não existe. Mesmo que você tenha estabilidade financeira, amorosa e tudo mais, tudo pode mudar, de uma hora para outra. E aí? O filho já existindo, não dá para voltar atrás. No balanço das horas tudo pode mudar, galera, já dizia o grupo com nome de transporte público, Metrô. Para saber a hora de ter filho, o mais importante não é ter tudo em ordem por fora, mas sim por dentro. Ora, você pode estar pensando, a Cíntia ficou maluquinha, e o quesito grana? Família? Tudo isso importa, é óbvio!

Grana precisa ter mesmo, mas não MUITA grana. Uma criança demanda gastos, claro, mas nada que seja impagável, principalmente, se você entender que não precisa do berço mais caro, das roupas de bebê de grife ou da poltrona (inútil) de amamentação. Quanto ao quesito família, é evidente que a criança precisa de estrutura emocional, mas o conceito de família é relativo, e a convenção do papai, mamãe e bebê é apenas uma das formas de família possíveis. O importante é que a criança tenha um lar, isso disse mais detalhadamente lá atrás, neste post. Que tenha pessoas dedicadas a amar, cuidar, orientar.

Não acredite na utopia do controle absoluto da vida, não temos poder de controlar todas as variáveis. O mais importante é aceitar o que nos acontece com sabedoria e saber que um filho, como tudo que existe nesse mundo, traz enormes dificuldades, mas grande aprendizado. E se você estiver aberta ou aberto a isso, uma criança pode trazer muita felicidade. 

Bjs e até o próximo post!

 

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